Uma aventura para toda a família
O Hobbit foi o primeiro livro de J. R. R. Tolkien com apelo popular. Direcionado para o público infanto-juvenil, ele é considerado uma introdução ao universo fantástico das obras do autor, em especial à trilogia do Senhor do Anéis. Com grande impacto simbólico, mas linguagem acessível, a história trata basicamente da jornada de Bilbo Bolseiro (ou Bilbo Baggins), um hobbit nada chegado a aventuras, em uma missão extremamente arriscada. Atraído pelo convite de Gandalf, um mago que outrora fora amigo de seu avô, Bilbo é convencido a participar de um empreendimento em que ajudaria 13 anãos (Tolkien optou por usar a palavra “dwarves” como o plural de “dwarf“, mesmo com a palavra “dwarfes” ser o plural tradicionalmente usado para se referir a mais de um anão - trazendo para o português essa escolha estilística do escritor, optou-se por “anãos”) a recuperarem seu reino ancestral. Um reino que ficava sob uma montanha repleta de riquezas, mas que havia sido dominado por um dragão chamado Smaug. Um lugar muito além de todos aqueles que Bilbo conhecia ou tinha ouvido falar.
Permeada de simbolismos e recheada de seres fantásticos, a história contém elementos de uma fantasia medieval de origem anglo-saxã. Bilbo, um herói improvável, que era mais preocupado com seus bens materiais e com sua vida pacata no condado onde morava, aceita uma missão em que precisa desempenhar um papel que não é o seu (o de um ladrão) para restaurar um reino que não lhe diz respeito. Saindo de sua zona de conforto, Bilbo, a cada aventura e sufoco que passa, vai amadurecendo e surpreendendo a todos e a si mesmo. Seus companheiros de aventura, os anãos, não são heróis, e estão mais preocupados em recuperar sua riqueza do que com qualquer outra coisa, mas, apesar disso, acabam admirando e confiando no hobbit que contrataram.
Com alguns diálogos marcantes, principalmente nas charadas entre Bilbo e Gollum (o hobbit amaldiçoado pela cobiça do anel) nas cavernas dos gobelins, e na conversa de Bilbo com Smaug dentro da montanha, o livro ao mesmo tempo diverte e nos convida para a reflexão. O dragão, símbolo do mal medieval, é a encarnação da soberba e da ganância. Um ser desprovido de coração, no sentido simbólico, que dormia sobre o tesouro que conquistou e destruía tudo e todos que ousassem retomá-lo. Resistir ao que ele representa é resistir à tentação de nos perdermos numa vida material hedonista, de lutarmos contra o mal que habita em todos nós.
Ao final, chegamos a conclusão de que O Hobbit trata do dom de usar o livre arbítrio para alcançar o bem e que, ao nos inserirmos num drama maior, numa jornada de vocação, fazemos parte de uma história maior que nossas vidas. Como cita Gandalf ao final: "Você é uma ótima pessoa Sr. Bolseiro, e tenho muito apreço por você; mas é apenas um camarada bem pequeno num vasto mundo, afinal de contas!"
Lançado em 1937, O Hobbit é um divisor de águas na literatura fantástica mundial. Mais de 80 anos após a sua publicação, o livro que antecede os ocorridos em O Senhor dos Anéis continua arrebatando fãs de todas as idades, talvez pelo seu tom brincalhão com uma pitada de magia élfica, ou talvez porque J.R.R. Tolkien tenha escrito o melhor livro infanto-juvenil de todos os tempos.
Essa edição em capa dura da Harper Collins acompanha um pôster de Valfenda (ou Rivendell), a cidade dos Elfos que viviam próximos às montanhas nebulosas.
Notas sobre o autor: Conhecido internacionalmente como J.R.R. Tolkien, John Ronald Reuel Tolkien foi um premiado escritor, professor universitário e filólogo britânico. Nascido no Estado Livre de Orange (atual África do Sul), passou a viver na Inglaterra a partir dos 3 anos de idade. Desde pequeno ele era fascinado por línguas e costumava inventar seus próprios idiomas. Doutor em Letras e Filologia pela Universidade de Liège e de Dublin, foi nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico pela Rainha Elizabeth II e recebeu o título de doutor honorário em Letras pela Universidade de Oxford. Tolkien é considerado o "mestre da literatura fantástica". Suas obras, como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion, foram traduzidas para mais de 50 idiomas, vendendo mais de 200 milhões de cópias e influenciando continuadamente gerações e gerações de escritores e leitores no mundo todo.
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