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Fibra de Carbono no Brasil - Diana Finkler

Atualizado: 4 de fev.

Desenvolvida nos anos 60, a fibra de carbono é um dos materiais mais fantásticos já desenvolvidos, mas ainda possui baixo uso industrial. O Brasil está dando os primeiros passos para mudança e conquista um novo cenário, promovendo o uso em grande escala e com custo competitivo.


Recentemente foi desenvolvida uma significativa inovação no mercado de química no Rio Grande do Sul, trata-se do primeiro processo de fabricação e injeção de compósitos termoplásticos contendo de fibra de carbono que possibilitará a fabricação de inúmeros produtos desta tecnologia no Brasil.


O projeto realizado com êxito pela empresa NTC Plásticos de Engenharia, já está dando os primeiros frutos e conta com as parcerias tecnológicas da empresa Marina Tecnologia (Especialista em ciência dos materiais), da UCS – Universidade de Caxias do Sul, e com parceria de Fomento da FINEP (Programa PADIQ).


O resultado deste desenvolvimento, impacta diretamente o mercado consumidor que poderá a partir daí adquirir produtos de maior qualidade e sustentabilidade, pois o uso da Fibra de Carbono culmina em materiais mais resistentes e significativamente mais leves impactando na redução do consumo de combustíveis quando aplicado em veículos, por exemplo.


Sabe-se que a fibra de carbono foi desenvolvida nos anos 60, e já é amplamente utilizada no mercado mundial de aviões, eólico e carros de corrida, mas seu uso ainda é muito baixo mundialmente no mercado em geral de termoplásticos (alto volume). Há uma tendência óbvia, que o segmento automotivo seja o grande consumidor de fibra de carbono neste segmento, e alavanque de forma significativa o mercado, sendo está demanda reprimida por anos.


Se tratando de um produto/tecnologia tão bom, por que o mercado automotivo até hoje não deslanchou com a aplicação em alta escala?


Trata-se da falta de simetria de informação.


Até então, não havia se viabilizado a integração de um universo de atividades, informações e superação de gaps tecnológicos, tais como: Desenvolvimento de fornecedores, de máquinas, de mão de obra, de compatibilidade da fibra de carbono com o plástico, do processamento de materiais de altíssima viscosidade e tantos outros pontos críticos, e ainda cada um destes pontos era tratado de forma individual por pessoas, empresas e ICTs que não se conectavam ou que trabalhavam com informações assimétricas.


E como a NTC fez, para sair fora da caixa, e mergulhar nesta oportunidade?


Tudo foi possível quando a empresa decidiu apostar no Open Innovation, designando um agente externo mediador da inovação (AEMI), neste caso a empresa Marina Tecnologia, que utilizou metodologias especifica e pode atuar de fora para dentro, assumindo a postura da premissa de que ninguém inova sozinho, e que a inovação só surge a partir do processo de pensamento, criação e envolvimento de diversas pessoas com diferentes competências, que são capazes de gerar os três “Is”: insights, invenções, ideias.


No bom português, fácil de falar e difícil de fazer...


A resposta para esta pergunta também passou pela viabilidade econômica e tecnológica simultaneamente. Olhando pelo ponto de vista econômico, a indústria automotiva demanda níveis de produção altos, e por isso apenas processos de injeção se tornam competitivos, já olhando pelo ponto de vista tecnológico, estamos falando de um produto de altíssimo nível de rigidez, onde injetar é um grande desafio. Assim a NTC enxergou oportunidade justamente resolvendo tecnicamente estas duas dificuldades.


No exemplo citado acima o AEMI, implementou ferramentas como o Legal Design, e atuou coordenando os eventos de colaboração, inicialmente fazendo a cooperação entre a Marinha e empresa, após fazendo a mediação técnica em exemplos como: Relação onde a Fibra de carbono feita pela Marinha, que tinha know-how de fibra para Polímero X, e não para Poliamida (PA), a NTC tinha know de PA e não de fibra, mas a soma dos know-hows, a mediação tecnológica permitiu de fato gerar uma ideia de como compatibilizar que até então era para X, em PA, fazendo tratamento superficial, somando da ambas as partes, os três Is: insights, invenções e ideias.


Fonte: CBGDP 2019


Outra mediação técnica, deu-se em relação a injeção, a NTC tinha know-how de ferramental e design, porém não tinha conhecimento na área de simulação, já a Marinha dominava simulação, e os testes de alta complexidade, e não tinha know-how de injeção e de ferramental para plástico. Somente através da integração de know-hows foi possível se chegar à solução aplicável ao mercado.


Dizem que a inovação de alto risco tecnológico é apenas para os loucos...


Neste tipo de projeto altamente complexo, quando as pessoas decidem colaborar verdadeiramente, contribuindo sistematicamente com insights, dados de uma invenção ou de uma ideia oriunda de outros momentos, e que vão gerando conexões, e que em geral são a peça que faltava para completar o “quebra cabeça”, é quando de fato se passa a ser possível concretizar a inovação.


Principalmente no que tange cada um destes três termos: Insights, invenções, ideias, onde evidentemente cada um tem papel fundamental no processo de criação de uma inovação, e é óbvio dizer que eles surgem via colaboração de diversas pessoas envolvidas no processo, tanto de dentro, como de fora da empresa. Neste caso, temos evidências de um time que trabalha com comprometimento real, sendo uma equipe multidisciplinar que literalmente topou mover montanhas técnicas e burocráticas.


Fonte: Autor - Workshop Tecnológico na Marinha e na NTC


Quase 50 anos separam a criação do material e sua aplicação em inovações de alta escala....


Dados do BNDES de 2012, revelam que a capacidade nominal efetiva instalada no mundo era de aproximadamente 90 mil toneladas (ano), e dados de 2019 da compositesmanufacturingmagazine.com revelam que a capacidade aumentou para 100 mil. Tal capacidade é dividida na média em plantas produzem entre 5 mil e 8 mil toneladas ao ano, para demandas atuais que consomem praticamente toda a capacidade de produção, que são o segmento eólico e o aeroespacial (maiores consumidores). A produção mundial de Fibra de Carbono é concentrada em poucas empresas, japonesas, americanas e europeias, que representam 80% do mercado mundial.


Até aqui o impeditivo de expansão da fibra no mercado era o risco tecnológico envolvido e agora e a partir do sucesso da NTC e seus parceiros, surge a dificuldade da disponibilidade de material, mas isso é um problema bom, pois trata-se da criação real de demanda.


A criação de produtos para as indústrias automotiva, de máquinas, bicicletas e a geração real de oportunidades que fomentem demanda para a Fibra de Carbono, trata-se de uma grande inovação para o país, pois através desta tecnologia, empresas estarão apta a investir em fabricação de fibra de carbono local no Brasil (plantas industriais), ou até em buscar novas formas (tecnologias) para aumento de escala, também incentivará pesquisas em novas fontes de matéria-prima (ambientalmente melhores) e finalmente esses efeitos chegarão ao consumidor final em custo ainda menor, promovendo um efeito multiplicador e surgimento de novas inovações.


Sabemos que inovar significa introduzir novidades, produzir ou tornar algo novo; renovar, restaurar, assumimos a premissa que qualquer pessoa, em qualquer posição, pode realizar uma inovação, seja um epreendedor, um pesquisador, em estudante, um trabalhador, um empresário ou até mesmo um político, desde que esteja apto a integrar know-how e buscar a simetria de informação, na área em que se deseja progredir.


Desejamos profundamente que este case, sirva de inspiração para tantos outros que aguardam anos engavetados, como pesquisa em algum laboratório, pipe-lines de empresas, na cabeça de alguém genial ou até em uma biblioteca.


Acreditamos que o mundo em que vivemos pode ser cada vez melhor. E que devemos utilizar a integração de know-how e a atuação colaborativa de pessoas brilhantes, como uma forte ferramenta para a geração de insights, invenções e ideias, sempre em busca da prosperidade.



Um beijo cheio de Moléculas Valiosas

Instagram: @dianafinkler



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