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Sociedade do Cansaço - Byung-Chul Han

Atualizado: 17 de abr.




A sociedade do sobreviver

Pequeno, praticamente um livreto, Sociedade do Cansaço é uma reflexão da época em que vivemos. Apesar de não ser um obra complexa, e até com algumas ideias refutáveis, é um livro que vale a pena ser lido porque cumpre bem o papel de uma boa obra de filosofia, que é de chamar-nos à reflexão e nos incentivar a buscar a verdade de modo racional.


Partindo do pressuposto que cada época possui suas enfermidades fundamentais, o autor destaca que, visto a partir da perspectiva patológica, o começo do século XXI não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal. Doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a Síndrome de Burnout (SB) determinam a paisagem patológica do nosso século. Mas por quê? Quais são suas causas?


Ao dizer isso, o autor não está afirmando que estamos imunes a pandemias como a que vivemos hoje, mas que os mecanismos de divisão da sociedade entre dentro e fora, amigo e inimigo e entre próprio e estranho mudou. A época atual se caracterizaria pelo desaparecimento dessa alteridade, dessa estranheza, dado que, em lugar da alteridade, entrou em cena a diferença, que não provoca nenhuma reação imunológica. E como não provoca nenhuma reação, ela elimina a negatividade, que é a força vital da vida. As doenças neuronais do século XXI seriam, então, causadas por um excesso de positividade, um excesso de igual.


O igual não leva à formação de anticorpos. Num sistema dominado pelo igual não faz sentido fortalecer os mecanismos de defesa. Temos que distinguir entre rejeição imunológica e não imunológica. Essa se aplica a um excesso de igual, um exagero de positividade.


A violência da positividade que resulta da superprodução, do superdesempenho ou supercomunicação já não é mais viral. É uma violência saturante, exaustiva, causada por um excesso de estímulos, informações e impulsos. O cansaço da sociedade seria então derivado de uma sociedade focada no desempenho, e de uma cobrança (e autocobrança) excessiva por resultados, eficiência e produtividade.


O sujeito de desempenho desgasta-se correndo num roda de hamster, que gira cada vez mais rápido ao redor de si mesma. O sujeito de desempenho explora a si mesmo, até consumir-se completamente. Ele seria incapaz de sair de si, de estar lá fora, de confiar no outro, no mundo. O mundo digital potencializa esse comportamento, pois a virtualização e a digitalização estão levando cada vez mais ao desaparecimento da realidade que nos oferece resistência.


A autoexploração caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade, mas com a falsa liberdade. Ser livre significa ser livre de coações e liberdade é o oposto disso. As enfermidades psíquicas como a depressão ou o burnout são a expressão de uma profunda crise de liberdade. São um sinal patológico de que hoje a liberdade está se transformando em coação.


Criticando o que ele chama de hipercapitalismo, que transformou a existência humana em relações comerciais, o autor alerta que, no mundo de hoje, tudo que é divino e festivo ficou obsoleto. Tudo se transformou numa grande e única loja comercial. É hora de rompermos essa estrutura e a transformarmos numa moradia, numa casa de festas e celebração, onde valha mesmo a pena viver.



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Sobre o autor:

Byung-Chul Han é considerado uma das vozes filosóficas mais inovadoras da atualidade. Filósofo e ensaísta sul-coreano, atualmente ele é professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim, além de autor de uma dezena de ensaios de críticas à sociedade do trabalho e da tecnologia.













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