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O Enigma Quântico - Wolfgang Smith

Atualizado: 7 de jan.



Desvendando a chave oculta

Segundo Olavo de Carvalho, no prefácio à edição brasileira, O Enigma Quântico é uma das maiores realizações intelectuais do século XX. Um livro que sacode as estruturas cartesianas do nosso modelo de pensamento, encarando a mecânica quântica não a partir de uma filosofia racionalista ou empirista, mas a partir da metafísica (a filosofia primeira, o estudo do ser enquanto ser), da ontologia (ramo da metafísica que estuda conceitos como existência, ser, devir e realidade) e da cosmologia tradicionais. Uma obra que vai na direção contrária de interpretar os ensinamentos milenares do Oriente e do Ocidente em termos da física moderna.


Ao dirigir-se a todos aqueles que buscam entender o mundo e entender o papel da ciência moderna neste entendimento, Wolfgang Smith nos oferece um trabalho de importância fundamental na demolição das promessas extravagantes do cientificismo, ao mesmo tempo que desvenda o enigma da mecânica quântica à luz das doutrinas milenares, as quais sempre proveram os meios para solução dos enigmas e dos mistérios da existência e do pensamento humano ao longo de todas as eras.


Apesar de não exigir um conhecimento técnico sobre a física, nem de qualquer contato do leitor com a literatura a respeito da realidade quântica, o autor faz uso de termos filosóficos que podem não ser familiares à maioria das pessoas. A inclusão de um glossário para definições sucintas acabou sendo de grande utilidade, mas ainda assim a compreensão da obra exige um esforço de atenção considerável.


Partindo da premissa de que a concepção cartesiana de um mundo externo (res extensae ou coisas extensas) e um mundo percebido (res cogitantes ou coisas pensantes) - teoria da bifurcação, é uma premissa metafísica que não pode ser nem verificada e nem desmentida por quaisquer meios empíricos ou científicos, Wolfgang Smith abre caminho para a tentativa de dar um sentido filosófico às descobertas da teoria quântica. O mundo corpóreo, que é o somatório das coisas e eventos que podem ser percebidos diretamente pelo ser humano através dos seus sentidos, seria nada mais nada menos que a própria realidade, ou mundo real, no qual nos encontramos. Cada elemento existiria apenas numa relação com todos os outros e, portanto, numa relação com a totalidade a partir de um polo consciente, subjetivo. Neste caso, não há o que se falar em coisas extensas e coisas pensantes, pois tudo faria parte da mesma realidade.


E o que seria o mundo físico? Como se ele se distinguiria do mundo corpóreo? O mundo físico seria aquele com que a física se ocupa através de atos de medição e concepções teóricas. O modelo pelo qual um objeto físico é conhecido deve ser compatível com os fatos mensuráveis, ou seja, tem que ser possível extrair-se dele consequências empiricamente verificáveis. O objeto físico, entretanto, não pode ser reduzido a seus efeitos observáveis; é o ente, a manifestar-se ele próprio, que configura o objeto físico. Falando de modo estrito, eles não podem ser percebidos e nunca o serão, pois medir não é o mesmo que perceber. Podemos deduzir desse raciocínio o seguinte: não pode haver conhecimento do domínio físico sem uma correspondência entre um objeto corpóreo e o objeto físico a ele associado e, da mesma maneira, não pode haver conhecimento do mundo corpóreo na ausência da percepção pelos sentidos. Os dois mundos, o corpóreo e o físico, estão interligados.


Segundo Wolfgang Smith, a perda do contato com a realidade viria da promoção do universo físico em domínio primário, ou seja, da sua prevalência sobre o universo corpóreo. Mesmo o universo quântico não constituiria um universo em si, dado que ele faz parte do todo, da própria realidade. Todos os objetos físicos, por menores que sejam, seriam manifestações particulares da realidade total. A indeterminação quântica, oriunda do Princípio da Incerteza de Heisenberg, longe de ser uma aberração inexplicável, representaria uma ação da natureza como um princípio ativo, criador. Uma ação obrigatoriamente instantânea, sem correlação com um processo temporal.


O universo observável, desta forma, contrariamente às suposições do pensamento científico moderno, não pode ser entendido, em última instância, com base na causalidade natural. O mundo natural pressupõe um agente criador, não apenas no sentido uma causa primeira que tenha trazido o universo à existência, mas um princípio de causalidade transcendente que opera aqui e agora. Nas palavras de Santo Agostinho: "Fora de qualquer dúvida, o mundo não foi feito no tempo, mas com o tempo".


Smith nos lembra de que o ocidente moderno constitui a primeira civilização que não enxerga que o cosmos foi concebido além do tempo e, por conseguinte, metacosmicamente - não haveria um antes e um depois. Nossa ciência não encontra uso para um metacosmos, pois está comprometida com uma visão do universo empírico como se fosse um sistema fechado que pode ser compreendido em termos tão-somente da causalidade natural. Livramo-nos da noção de transcendência e reduzimos a ideia de causalidade ao nível de um processo temporal. Podemos afirmar, segundo ele, que o "tempo" se transformou no novo Deus e a "evolução" na nova religião.


"Aquele que vive na eternidade criou todas as coisas de uma vez". (Eclesiástico 18,1)


Seu argumento final é o de que a indeterminação quântica pode ser encarada como um reflexo do caos primordial ou, ainda mais concretamente, como um vestígio desta desordem subjacente. Assim, pode-se dizer que toda medição de um sistema quântico constitui um ato cosmogênico que participa do Ato único da criação. Precisamos, acredita ele, fincar raízes nas doutrinas metafísicas tradicionais da humanidade, naqueles mesmos princípios que foram depreciados desde o Iluminismo como primitivos, pré-científicos e pueris. O argumento contra a sabedoria tradicional já atingiu seu limite e o caminho para as fontes perenes se encontra aberto uma vez mais. Chegou o tempo de uma nova interpretação das descobertas científicas baseada nos princípios pré-cartesianos; precisamos de uma mudança radical de perspectiva, de uma autêntica metanoia. O que está em jogo é se os pressupostos da ciência conduzirão a uma iluminação do intelecto humano ou ao seu esgotamento.



Disponível em capa comum e no Kindle Unlimited; Vide Editorial (29/05/2019). Clique aqui para comprar.


Notas sobre o autor: Wolfgang Smith nasceu em 1930 e se formou aos 18 anos em Física e Matemática na Cornell Uni­versity. Suas pesquisas e artigos em aerodinâmica e campos de difusão forneceram a chave teórica para a solução de problemas de reentrada na atmosfera em viagens espaciais. Depois de receber o Ph.D. em Mate­mática pela Columbia University, foi professor no MIT e na University of California. Além de inúmeras publica­ções técnicas relacionadas à topologia diferencial, Dr. Smith é autor de três livros e muitos artigos sobre questões interdisciplinares e epistemológicas, nos quais se preocupa em desmasca­rar algumas concepções cosmológicas equivocadas porém amplamente ad­mitidas como verdades científicas. Desde que se aposentou da carreira acadêmica, tem publicado muitos livros dedicados à crítica e à interpre­tação da ciência desde um ponto de vista metafísico. Este é o quarto livro de sua autoria publicado pela VIDE Editorial - os outros são O Enigma Quântico, Ciência e Mito e A sabedo­ria da antiga cosmologia.







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