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Messias de Duna - Frank Herbert

Atualizado: há 9 horas


O destino inexorável de um messias

Frank Herbert nos apresentou um universo vasto e complexo em "Duna" (leia nossa resenha aqui), uma obra-prima que transcendeu o gênero da ficção científica. Nela, acompanhamos a saga de Paul Atreides, um jovem nobre que, forçado ao exílio no desértico planeta Arrakis, emerge como uma figura messiânica para os Fremen, os nativos do deserto. Sua ascensão, impulsionada por uma poderosa presciência e pela manipulação genética milenar das Bene Gesserit, culmina na derrubada do imperador e no estabelecimento de Paul como o novo líder do universo. "Duna" é um triunfo da imaginação humana, onde ecologia, religião e política se mesclam numa história espetacular.


No entanto, o final do livro é, para Paul, um prenúncio de horror. Sua vitória não é um desfecho feliz, mas o catalisador para eventos catastróficos que ele, com sua visão precognitiva, já antevia. É exatamente desses desdobramentos sombrios que surge "Messias de Duna" (1969), o segundo volume da saga. Longe de ser uma celebração do herói, esta obra é uma visceral desconstrução do mito do salvador e uma profunda meditação sobre o fardo do poder absoluto.


Se em "Duna" a história nos contava sobre a descoberta de um líder e a conquista de um império, "Messias de Duna" nos revela o que acontece depois do final feliz, e confesso que as lembranças do triunfo inicial ficaram totalmente para trás. Acabamos descobrindo um universo ainda mais sombrio e complexo, onde a vitória se transforma em fardo, e a profecia, em maldição. Uma obra que nos traz uma reflexão mais profunda sobre as consequências do poder absoluto e a natureza da própria salvação.


A história se passa doze anos após os eventos do primeiro livro. Paul Atreides, agora mais conhecido como Muad'Dib, é o Imperador de um império que se estende por bilhões de planetas, luas e habitats espalhados pela galáxia. Mas, ao contrário do que poderia se imaginar, seu reinado não é de paz e prosperidade. Paul está preso em uma teia de intrigas políticas e, mais doloroso ainda, é refém de sua própria presciência. A Jihad Galáctica, impulsionada em seu nome, já ceifou incontáveis vidas, e ele, com sua visão do futuro, é o único que vê o terrível custo de cada decisão.


Aqui, o foco da raça humana não é apenas o aprimoramento físico e mental, como no primeiro livro, mas a própria sobrevivência em um futuro incerto. A tecnologia, que já era secundária, torna-se quase irrelevante diante da luta existencial de Paul e das maquinações das Grandes Casas, da Guilda Espacial e da Irmandade Bene Gesserit, que veem em seu poder uma ameaça à própria ordem universal. A especiaria, antes a fonte de sua ascensão, agora é o grilhão que o prende a um futuro que ele desesperadamente tenta mudar, mas que parece inevitável.


Paul Atreides, o personagem central, já não é mais o messias em ascensão, mas uma figura trágica, atormentada por suas visões e pela responsabilidade de bilhões de vidas. Seu amadurecimento se dá na aceitação de um destino que é tanto libertador quanto aprisionador, uma busca desesperada por um "Caminho Dourado" que ele sabe que manchará sua alma. A presença de personagens como Chani, Alia e o ghola de Duncan Idaho (Hayt) aprofunda ainda mais o drama humano e as complexidades morais do cenário.


Misturando o fardo da presciência, a intriga política e o preço do fanatismo religioso, temos, ao final, uma obra que não é uma aventura, mas uma reflexão existencial. As disputas entre o que é "certo" e "necessário", entre a liberdade e o destino, transformam não apenas Paul, mas a própria compreensão do leitor sobre o que significa ser um "herói".


No entanto, ao focar na desconstrução do mito de salvador de Muad'Dib, "Messias de Duna" fica longe do triunfo imaginativo do livro anterior. Algumas passagens, inclusive, são um poucos confusas e enfadonhas. A parte final do livro acaba por recuperar o interesse do leitor ao apresentar um desfecho, de certa forma, surpreendente. Paul, ao final, não é um salvador glorioso, mas uma figura trágica, cega, que paga um alto preço por suas escolhas.



Publicado pela editora Aleph em junho de 2017, o livro em capa dura pode ser adquirido na Amazon através do link https://amzn.to/44sRaRC.


Notas sobre o autor: Frank Patrick Herbert Jr. é um dos autores de ficção científica mais cultuados da modernidade. Nascido no dia 8 de outubro de 1920 na cidade de Tacoma, no estado norte-americano de Washington, Herbert cresceu em uma família pobre, mas que não o impediu de prosperar. Mesmo falecendo em 1986, é inegável que o legado de Frank Herbert continua tão forte quanto 35 anos atrás. Fazendo de tudo um pouco na vida (de pescador de ostras a editor renomado em jornais e revistas), o autor soube construir um universo vasto, rico e extremamente criativo, que figura ao lado das grandes epopeias galácticas já imaginadas, como Fundação e Star Wars (esta, inclusive, inspirada na obra de Herbert, como já declarou George Lucas). Com atenção quase científica, ele foi capaz de criar mundos complexos e gerações inteiras de povos a partir de diferentes conceitos sem perder a essência fantástica que fez de Duna e de suas sequências uma série única.




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