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A Última Superstição - Edward Feser

Atualizado: 22 de abr.



A fundamentação racional da fé

Para aqueles cristãos que buscam justificar sua fé em Deus de uma maneira racional, ou mesmo para aqueles que acreditam que isso não seja possível, este livro é um guia intelectual de valor inestimável. Contrapondo-se ao secularismo dos antirreligiosos modernos, ou neoateístas, Edward Feser faz uma defesa contundente da concepção de Deus a partir de uma cosmovisão (visão de mundo) filosófica amplamente aristotélica.


Para Feser, a última superstição seria a mãe de todas as crenças irracionais e imorais que compõem o sistema de pensamento progressista, ou seja, a própria negação da razão e da moralidade. Ao contrário do que muitos possam pensar, segundo ele, o secularismo jamais conseguiu se basear verdadeiramente na razão, mas apenas na fé (desejo de crer em algo). Uma fé baseada numa concepção mecanicista do mundo natural e numa natureza sem fins ou causas finais.


A cosmovisão da filosofia clássica, ao contrário, fornece um fundamento intelectual poderoso para a religião e a moralidade ocidentais a partir do desenvolvimento lógico das ideias de Aristóteles. Ao abandonar o aristotelismo, os fundadores da filosofia moderna contribuíram para a crise civilizacional pela qual o Ocidente vem passando há vários séculos e que se acelerou enormemente no último. Este abandono está implicado na desintegração da confiança na possibilidade de justificar racionalmente a moralidade e a crença religiosa, e na suposição generalizada de que a descrição científica da natureza humana implica que o livre arbítrio é uma ilusão.


"Tudo o que é mudado deve ser mudado por algo ou tudo o que é movido deve ser movido por algo."

Aristóteles


Para Aristóteles, os objetos corriqueiros da experiência são compostos irredutíveis de atualidade (o que se é agora) e potencialidade (capacidade de algo vir a ser). Desta forma, tudo o que muda precisa de algo externo para mudá-lo, ou, em outras palavras, nenhum potencial pode atualizar a si mesmo. Adicionalmente, tudo o que existe no mundo natural teria uma causa final, um fim ou um propósito. Para São Tomás de Aquino, que introduziu Aristóteles na filosofia medieval escolástica, aproximando a filosofia grega da teologia cristã, Deus seria um ente de atualidade pura, ou Causa Primeira. Se Deus é a origem das coisas, Deus é a finalidade das coisas.


"O que não tem existência por contra própria deve ter uma causa."

São Tomás de Aquino

Segundo Feser, uma das patologias contemporâneas é o abandono do realismo clássico dos filósofos gregos e escolásticos e, especialmente, da doutrina aristotélica das quatro causas. Como Platão, Aristóteles considerava a forma, essência ou natureza de uma coisa para determinar o que era bom para ela. É o fundamento do sentido distintivamente moral de bondade. Os seres humanos podem saber o que é bom para eles e escolher buscar esse bem. E este é precisamente o propósito ou fim natural das faculdades do intelecto e da vontade, pois, como as nossas outras faculdades, essas também têm uma causa final: permitir que entendamos a verdade sobre as coisas, inclusive o que é bom para nós dada a nossa natureza ou essência, e agir à luz disso. A natureza ou essência do ser humano seria, então, buscar a verdade e evitar o erro.


Podemos deduzir, dessa forma, que escolher de acordo com os propósitos ou causas finais que temos por natureza é moralmente bom; escolher contra eles é moralmente mau. A natureza estabeleceu para nós certos fins e a lei natural nos impõe a busca desses fins. A moralidade tradicional, por consequência, não se basearia em mandamentos divinos arbitrários apoiados por ameaças de punição, mas antes na análise sistemática da natureza humana originada na filosofia clássica.


A ciência moderna, por sua vez, longe de refutar a metafísica (estudo do ser enquanto ser) de Aristóteles, foi definida de tal maneira que não permitiu que nada que cheirasse a causas finais e formais aristotélicas fosse considerado verdadeiramente científico. A ideia de que a compreensão da ciência que os modernos têm, segundo Feser, é definida mais por uma animosidade contra a escolástica aristotélica do que por qualquer conteúdo afirmativo. Ele ressalta, ainda, que o aristotelismo não descarta as descobertas da ciência moderna, mas apenas não as interpreta de modo puramente mecanicista ou naturalista.


Podemos concluir, ao final do livro, que a separação que fizeram da ciência e da religião é, na verdade, muito mais o resultado de uma disputa de duas cosmovisões metafísicas distintas (a clássica e a moderna) do que de uma oposição entre fé e razão. Compreender o aristotelismo escolástico, assim, se torna inevitável se quisermos que a ciência moderna e a própria razão façam sentido.



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Notas sobre o autor: Edward Feser é professor de filosofia do Pasadena City College. Suas principais áreas de pesquisa são filosofia da mente, filosofia moral e política e filosofia da religião. Além deste livro, ele também escreveu Neo-Scholastic Essays, Scholastic Metaphysics: A Contemporary Introductions, Aristotele on Method and Metaphysics, Aquinas, Locke, the Cambridge Companion to Hayek, Philosophy of Mind e On Nozick.




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