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A Revolta de Atlas - Ayn Rand

Quem é John Galt?

Numa época imprecisa, num Estados Unidos em franca decadência e cercado de repúblicas socialistas, o romance contrapõe o espírito empreendedor e inovador da nata da indústria americana contra uma sociedade contaminada por falsas virtudes e a necessidade de controle sobre a livre iniciativa. Um progressismo permeado pelo relativismo típico daqueles que procuram a negação da verdade em prol de narrativas que favorecem o intervencionismo estatal e os grupos de interesse que se valem de sua influência na máquina governamental.


Dagny Taggart, vice-presidente de operações da Taggart Transcontinental, a maior empresa de transporte ferroviário do país, Hank Rearden, empreendedor e dono das Siderúrgicas Rearden, e alguns outros empresários, desafiam o status quo para realizar seus objetivos e vencer as dificuldades impostas por um economia em avançado processo de deterioração. Do outro lado, temos o niilismo de grande parte da intelectualidade, de alguns empresários, da mídia e dos agentes governamentais que, através de uma falsa moralidade, entendem que a virtude é dar a quem nada merece e não a quem precisa merecer para ter. Um mal travestido de boas intenções que destroi o espírito inovador e quem está no caminho.


Através de ótimos diálogos, onde os pontos de vista antagônicos das duas visões de mundo se contrapõem, somos levados a fazer comparações com a própria realidade em que vivemos, uma eterna luta entre aqueles que geram riqueza e aqueles que querem se apropriar dela. Nesse processo, passamos a compreender como as narrativas são importantes para estabelecer a base do pensamento que serve de justificativa para a criação de todo um arcabouço legal de controle e favorecimento de determinados grupos de interesse.


Com o aumento da intervenção governamental e a disseminação de uma mentalidade cada vez mais canibalesca que condenava o lucro em nome de um suposto bem comum, todos os grandes empresários e industriais começam a sumir sem deixar deixar vestígios. Ideias antirracionais, que visavam destituir as pessoas de opiniões próprias e preparar o caminho para o autoritarismo, são disseminadas com o apoio da imprensa e da academia.


A política do toma lá dá cá passa a imperar, sem pudor e sem limites, sustentada por um código moral que alimentava um conceito de castigo em que a virtude da própria vítima era o seu combustível. Um código que só destruia aqueles que tentavam observá-lo, um castigo que fazia com que os honestos sofressem e deixava incólumes os desonestos. Uma sociedade não muito diferente da nossa realidade atual, onde as virtudes são falseadas para justificar atos supostamente corretos, mas que, no fundo, são artimanhas para conquistar e manter o poder.


Fábricas fecham pelo país, trazendo desemprego e fome. Matérias-primas essencias são desviadas para ajudar países, ou melhor, repúblicas populares espalhadas pelo mundo. O governo culpa os empresários pelo desastre iminente, acusando-os de não cumprirem seu dever público. Estes são impedidos de abrir falência e de demitir seus funcionários. Bens privados são confiscados e funcionários ligados ao governo são indicados para ocupar posições estratégicas nas empresas encampadas.


Em meio ao caos que se anuncia, vamos descobrindo que o sumiço das melhores mentes do país não era mero acaso, e sim um plano orquestrado pelas melhores mentes do país e lideradas por um homem cujo princípio moral era fundamentado pela racionalidade absoluta e pela utilização integral e implacável da mente humana para o alcance da felicidade - seu nome era John Galt. Um plano cujo objetivo primário era privar do saque e da pilhagem a riqueza produzida por aqueles que tinham como princípios norteadores o pleno uso da capacidade humana para criar, produzir e gerar valor. Um plano que tinha como objetivo final parar o motor do mundo para depois retomá-lo e recriá-lo.


O livro expressa, em essência, a filosofia criada e seguida pela autora, o Objetivismo. Uma filosofia que tem na razão o único meio para perceber a realidade, a única fonte de conhecimento, o único guia de ação e o meio básico de sobrevivência. Uma filosofia que considera que o objetivo moral da vida humana é atingir a própria felicidade ou interesse racional, e que o único sistema social consistente com esta moralidade é aquele que respeita os direitos do seres humanos à vida, liberdade e propriedade privada.


Rand caracterizou o Objetivismo como "uma filosofia para viver na terra", fundamentada na realidade e destinada a definir a natureza humana e a natureza do mundo em que vivemos. Ela criticava todo tipo de coletivismo e estatismo, que incluía muitas formas de governo, como o comunismo, o fascismo, o socialismo, a teocracia e o Estado do bem-estar social.


“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; ao comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; ao perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”. Ayn Rand


A despeito de você concordar ou não com alguns aspectos do Objetivismo, a obra induz o leitor a inúmeras reflexões ao longo das suas mais de 1.200 páginas. Publicado em 1957, é assustadoramente profético, mesmo não sendo esse seu objetivo. Distópico em algumas passagens, utópico em outras, ele perpassa a ideologia e compara os defensores da intervenção estatal e toda a sua rede de apoio (imprensa, academia e empresários inescrupulosos) a saqueadores e canibais. Nada mais adequado, nada mais realista, principalmente levando em consideração a própria história humana e a realidade em que vivemos.


Um livro essencial para revermos conceitos e reagirmos ao condicionamento midiático e acadêmico sobre temas essenciais como liberdade, empreendedorismo, estatismo, racionalidade, produtividade e justiça.



Sobre o livro: Editora Arqueiro - 1ª edição (10 julho 2017). Capa comum - 1216 páginas. Também disponível no formato digital (Kindle).












Sobre a autora: Ayn Rand nasceu em 1905, em São Petersburgo, na antiga Rússia czarista. Precoce e determinada, aos 9 anos decidiu que seria autora de livros de ficção e acabou se tornando uma das escritoras mais influentes dos Estados Unidos. Com o objetivo de escapar da Revolução Russa de 1917, mudou-se com os pais para a Crimeia. No entanto, após a vitória dos comunistas, o estabelecimento comercial de seu pai foi confiscado e sua família passou fome. Na escola, ficou muito impressionada com as aulas de história americana e considerou os Estados Unidos o modelo de nação em que os homens poderiam ser livres, princípio presente em toda a sua obra. Ao retornar da Crimeia, foi estudar Filosofia e História na Universidade de Petrogrado, onde se formou em 1924. Em 1925, obteve permissão para visitar parentes nos Estados Unidos. Embora tenha informado às autoridades soviéticas que sua estada em território americano seria breve, nunca mais voltou à Rússia. We the Living é sua obra mais autobiográfica, baseada nos anos em que viveu sob o regime comunista em sua terra natal. A Nascente, outra de suas obras, apresenta o herói típico de Ayn Rand: o homem idealista, que tem a felicidade como objetivo moral de sua vida, a realização produtiva como atividade mais nobre e a razão como seu único princípio absoluto. Porta-voz do individualismo, Ayn acreditava que o homem nasce livre e pode fazer o que desejar. Ateia e opositora ferrenha do socialismo e de outras formas de coletivismo, sempre defendeu o indivíduo contra o Estado e qualquer tipo de divindade ou religião que o obrigasse a abrir mão de seus direitos em favor do bem público. Em 1957, publicou sua última obra de ficção, A Revolta de Atlas – cujo título original é Atlas Shrugged. Neste livro, a grande realização de sua carreira, Ayn Rand foi brilhante ao transformar sua filosofia em uma história de mistério, combinando elementos da ética, metafísica, política, economia e até ficção científica.


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