Conhecida também como a Janela do Discurso, ela descreve o leque de ideias toleradas pela opinião pública. O termo é derivado do seu criador, Joseph P. Overton, ex-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, localizado em Michigan (EUA). Em sua descrição, ele afirmou que a viabilidade política de uma ideia depende dela situar-se dentro na janela, ao invés de ser determinada pelas preferências subjetivas dos políticos.
Ao representar o conjunto de ideias e valores que a população tolera, ela registra o que a maioria das pessoas pensa em determinado momento sobre determinado assunto. Por este motivo, uma das suas principais características é que ela não é apenas só mutável como também manipulável. Como podemos ver no diagrama abaixo, ela pode se deslocar tanto para um lado quanto para outro dentro do espectro de aceitabilidade da maior parte da população.
Uma das formas de manipulação é desviar determinado assunto da questão principal e começar a pautar assuntos adjacentes para tornar o discurso mais aceitável, até que a percepção das pessoas seja deslocada. E neste caso existem bons e maus exemplos, dependendo do grupo de influência e dos seus interesses (políticos, ideológicos, morais, religiosos etc) a médio e longo prazos. Um bom exemplo de mutabilidade da Janela de Overton é a escravidão - antes vista como aceitável, hoje ela é considerada inaceitável para a grande maioria das pessoas. Essa mudança de aceitação não aconteceu da noite pro dia, mas sim centenas de anos em determinadas civilizações - no caso do Brasil, algumas décadas após o fim do tráfico de escravos. O mesmo acontece com a maior parte das discussões em tempos de paz em regimes democráticos, desde o aborto até o porte de armas de fogo.
Grupos de interesse trabalham, muitas vezes dissimuladamente, para mudar a opinião das pessoas sobre determinado tema e torná-lo mais aceitável ou até permitido sem ressalvas após um certo período de tempo. Dependendo do que tipo de ideologia ou propósito que existe por trás daquele assunto em especial, os resultados podem ser prejudiciais à sociedade no longo prazo.
Mesmo hoje em dia, em plena era da informação, muitas pessoas podem pensar que quando formam uma opinião sobre um assunto estão fazendo de forma independente, mas é bem provável que elas tenham sido induzidas a pensar daquela maneira. Entender que estamos sendo constantemente bombardeados com ideias e narrativas quem têm como objetivo nos fazer mudar de opinião sobre os mais variados temas, mesmo que de forma gradual e muitas vezes subliminar, ajuda a construir um pensamento mais crítico sobre estas influências e seus mecanismos.
Não podemos nos esquecer de que a aceitabilidade da opinião pública determina a viabilidade política de um fato. Tomamos como exemplo a corrupção: se a sua Janela de Overton se deslocar para um maior grau de permissividade, mesmo que com pequenas ressalvas, escândalos de corrupção passarão a não se tornar mais impeditivos para o sucesso de um projeto político.
Emitir opiniões fora da janela social considerada aceitável pode significar ser rejeitado ou até "cancelado", permitindo que determinadas agendas ganhem força através do medo. Devemos considerar, entretanto, que se esta janela já estiver sido manipulada para objetivos que visam apenas atender ideologias segregacionistas ou autoritárias, estas opiniões podem contribuir para que outras pessoas sintam-se mais à vontade para exprimir suas ideias e, assim, reverter este movimento.
Achou interessante? Deixe sua opinião ou comentário aqui no blog.
