top of page

A frenética corrida em direção à Lua



As missões Peregrine e SLIM

Acabam de se desenhar mais dois emocionantes episódios da frenética corrida à Lua, que se desenrola desde o início de ano de 2024. No dia 18 de janeiro, retornou à Terra a fracassada missão Peregrine, da empresa americana Astrobotic, que não conseguiu entrar em órbita lunar devido a um grave vazamento de combustível. A Peregrine buscava tornar-se a primeira missão privada a obter um pouso suave na Lua, mas ainda no começo da missão, após verificada a anomalia que travou uma válvula e gerou o vazamento letal, a Astrobotic informou que um pouso lunar seria impossível. A Peregrine, e toda a sua carga de instrumentos científicos de vários países, além de cargas comerciais, conseguiu atingir uma distância da Terra tão grande quanto a Lua, mas ao cruzar a órbita lunar, encontrou apenas o espaço vazio - nosso satélite estava a milhares de quilômetros de distância, já que a trajetória prevista da nave não foi cumprida. A Peregrine deixou-se atrair pela gravidade terrestre e mergulhou na atmosfera em alta velocidade acima do Oceano Pacífico, incendiando-se completamente. Essa foi a solução encontrada pelo controle da missão para evitar qualquer tipo de dano em superfícies continentais, dentro das margens de manobra que restaram à malfadada Peregrine.


A primeira foto tirada pelo módulo lunar Peregrine da Astrobotic no espaço, compartilhada via X em 8 de janeiro de 2024. (Crédito da imagem: Astrobotic via X)


Uma vista do módulo lunar Peregrine antes de seu lançamento em 8 de janeiro de 2024. (Crédito da imagem: Astrobotic)


No segundo episódio, em 19 de janeiro de 2024, às 12h20m, hora de Brasília, a agência espacial japonesa JAXA obteve o pouso suave na Lua de sua missão SLIM (acrônimo de Smart Lander for Investigating Moon), na região lunar chamada de Mare Nectaris. O resultado faz do Japão o quinto país a lograr um pouso suave na Lua, seguindo a extinta União Soviética, EUA, China e, recentemente, a Índia (mencionamos a missão indiana em nosso artigo sobre Exploração Espacial). A missão SLIM entrou em órbita da Lua em 24 de dezembro de 2023, exatamente 55 anos e um dia depois da histórica missão Apollo 8 tornar-se a primeira missão tripulada a orbitar nosso satélite. A sonda, que deixou hoje a órbita lunar para a tentativa de pouso suave, marca a primeira tentativa governamental do Japão de conduzir uma alunissagem. A tentativa anterior foi privada: em 2022, a empresa japonesa Ispace tentou alunissar com o Hakuto-R, o qual não conseguiu desacelerar e impactou a Lua em alta velocidade, destruindo-se no processo. Outra característica notável da SLIM, é a proposta de pouso ultra preciso (daí seu apelido de Moon Sniper), o qual, se bem-sucedido, representará um grande salto de qualidade na tecnologia de pouso – na palavra dos técnicos japoneses responsáveis pela missão, “pousar onde nós queremos, e não onde nós podemos”. A SLIM busca, ao contrário dos parâmetros normais de tentar o pouco em uma área de diversos quilômetros de extensão, lograr uma precisão melhor que 100 metros no local de alunissagem. A SLIM também transporta um pequeno rover lunar, um simpático robô esférico chamado de LEV-2 que foi comparado ao dróide BB-8 da famosa franquia de sci-fi, Star Wars. O minúsculo robô, do tamanho de uma bola de tênis, tem energia para cerca de duas horas de exploração, e suas câmeras transmitirão dados e imagens diretamente à SLIM.


Sala de controle da missão SLIM na Agência Espacial Japonesa (JAXA).


Ilustração artística do módulo de pouso SLIM do Japão tentando seu pouso lunar. (Crédito da imagem: ISAS/JAXA).


O sucesso do pouso suave, porém, teve um sabor amargo. A telemetria confirmou o pouso bem-sucedido e, de acordo com análises preliminares, dentro da precisão pretendida. O robô LEV-2 foi liberado na superfície lunar, com sucesso. Mas a SLIM não conseguiu carregar seus painéis solares por alguma razão desconhecida. Os engenheiros japoneses afastaram qualquer possibilidade de dano por impacto no pouso, já que todos os instrumentos estavam funcionando perfeitamente. Possivelmente a sonda não obteve um posicionamento correto dos painéis. Se o problema não for corrigido logo, as baterias da SLIM fatalmente se descarregarão em algumas horas, encerrando a missão prematuramente. Uma análise definitiva da situação da SLIM não foi fornecida pela agência espacial japonesa no momento em que esse artigo foi escrito.


LEV-2 no modo rastejante, balançando de um lado para o outro. (Crédito da imagem: JAXA/TOMY Copmany/Sony/Doishisha University)


Já a corrida para a primeira alunissagem suave privada está em pleno andamento, dentro do programa CLPS (Commercial Lunar Payload Services, Serviço de Cargas Comerciais Lunares) da NASA, como já escrevemos aqui. Essa iniciativa busca desenvolver a capacidade de empresas pequenas e startups de prover serviços logísticos de carga da Terra à Lua. O fracasso da Astrobotic, como comunicado pela empresa e a NASA, era de certa maneira esperado dado o risco elevado destes desenvolvimentos. O CLPS é um grande movimento comercial, e será continuado em fevereiro, com o lançamento da missão IM-1 Nova-C da empresa privada Intuitive Machines, que também buscará o pouso suave na Lua. Além disso, no segundo semestre a Astrobotic dispara o seu segundo cartucho rumo à Lua: a missão Griffin, uma grande sonda de pouso a ser lançada de um foguete Falcon Heavy da SpaceX para levar até o pólo sul lunar o rover VIPER. O objetivo declarado da VIPER é a busca por evidência direta de água congelada. A disponibilidade deste precioso recurso, que pode sobreviver em regiões eternamente sombreadas perto dos polos lunares, representa, em última análise, a chave para a futura colonização da Lua com bases permanentes. A presença de água facilitaria imensamente a ocupação humana e permitiria a síntese química de combustível de foguetes. Com uma fonte de combustível disponível na Lua, aliada à baixa gravidade de nosso satélite, abre-se a possibilidade de lançamento econômico de missões grandes e ambiciosas rumo a destinos muito mais distantes – tais como os asteroides e o planeta Marte.


And last but not least, o mês de fevereiro possivelmente testemunhará a terceira tentativa de alçar o gigantesco foguete Starship, da SpaceX, até o espaço. Há boa chance de que a revolucionária empresa espacial alcance este grande marco, que representará um enorme passo na concretização dos projetos americanos de retorno à Lua ainda nesta década.


A corrida em direção à Lua é uma disputa multicivilizacional e, ao mesmo tempo, multicorporativa. As pesquisas científicas e os avanços tecnológicos envolvidos poderão transformar a exploração espacial na maior aventura humana de toda a história. Acompanhe nossos artigos e posts no Red Umbrella para saber mais, e não deixa de seguir @rocketsandumbrellas no Instagram.




bottom of page