A Nova Era do Comércio Espacial - a Lua e Além
A empresa norte-americana Astrobotic enviou ao espaço no dia 08/01/2024, às 04h08m, hora de Brasília, seu módulo lunar Peregrine, o primeiro desenvolvido pela iniciativa privada para pouso na Lua. O Peregrine está voando sob a iniciativa da Commercial Lunar Payload Services (CLPS, Serviço de Cargas Comerciais Lunares) da NASA, que busca alavancar diversas pequenas empresas e startups para prover variados serviços logísticos ao grande projeto de retorno humano à Lua e ao estabelecimento de uma base em nosso satélite – as missões Artemis.
Módulo Peregrine nas instalações da Astrobotic em Pittsburgh, EUA.
Esta é a primeira tentativa americana de pouso na Lua desde o fim das missões Apollo em 1972. A Peregrine carrega uma série de instrumentos científicos de vários países e agências espaciais, totalizando 20 cargas, sendo algumas meramente comerciais. Uma dessas cargas, por exemplo, é uma cápsula memorial da empresa de sepultamento espacial Celestis, que entrará em órbita ao redor do Sol contendo restos mortais de diversos notáveis, entre eles Gene Roddenberry (criador da série Star Trek), sua esposa, e atores famosos da série. A cápsula inclui ainda amostras de DNA dos ex-presidentes americanos George Washington, Dwight Eisenhower, John F. Kennedy, e Ronald Reagan.
O bem-sucedido lançamento marca outra grande conquista do programa espacial americano: o teste do novo foguete Vulcan Centaur, da empresa United Launch Alliance (ULA). Este poderoso foguete substituirá os veneráveis Delta IV e Atlas V, ambos com extenso currículo de sucessos. As missões Curiosity e Perseverance, à Marte, foram lançadas com o Atlas V, assim como a missão New Horizons à Plutão (única sonda a visitar este planeta) e OSIRIS-REX, a qual recentemente retornou à Terra amostras do asteroide Bennu. Esta última foi rebatizada como OSIRIS-APEX e está a caminho de um encontro com o asteroide Apófis, o qual fará uma super aproximação da Terra em 2029, e já foi considerado uma ameaça ao nosso planeta por seu risco elevado de colisão, mas isso é uma outra história. O Delta IV foi o responsável pela famosa missão solar Parker, assim como o primeiro voo da cápsula Orion, da NASA, em 2014. O Vulcan Centaur emprega os novíssimos motores BE-4, que queimam metano, e são fabricados pela megaempresa americana Blue Origin, rival direta da SpaceX. O bem-sucedido lançamento do Vulcan Centaur marca a primeira vez que um foguete impulsionado por motores a metano atinge o espaço. Os motores BE-4 também serão utilizados no enorme foguete New Glenn, ainda em projeto pela Blue Origin.
Vulcan Centaur no Space Launch Complex-41 da United Launch Alliance (ULA).
O Vulcan Centaur estabelece uma série de marcos na nova Corrida Espacial, entre inovações tecnológicas e rivalidades entre empresas, e seu desenvolvimento busca implementar uma estratégia de recuperar as partes mais caras do foguete para o reuso, tal como já feito ostensivamente pela SpaceX, e deste modo baratear a tecnologia. A Força Espacial dos EUA, entre outros clientes, estão de olho neste potencial do Vulcan Centaur. Se por um lado o lançamento em si pode ser considerado um sucesso absoluto, a missão Peregrine não teve a mesma sorte. Pouco após o lançamento, durante a fase conhecida como injeção translunar (na qual os motores da nave a impulsionam para fora da influência gravitacional da Terra e em direção à Lua), uma anomalia no sistema de propulsão provocou o afastamento da Peregrine dos parâmetros nominais da missão, impedindo que seus painéis solares se alinhassem com o Sol para abastecer a nave com eletricidade. A anomalia foi corrigida e as baterias foram carregadas, mas aparentemente a Peregrine está com um vazamento de combustível. Uma análise preliminar sugere que há pouca possibilidade de que o pouso na Lua da pequena sonda venha a ser tentado – ele estava marcado para o dia 23 de fevereiro próximo, na região de Sinus Viscositatis, localizada às margens do Oceanus Procellarum (Mar das Tempestades).
Oceanus Procellarum
Comentaristas da NASA e da Astrobotic, porém, enfatizam que uma falha neste estágio não significa o fim do programa CLPS, que é extenso e ambicioso. Pelo contrário, a Peregrine é apenas o começo de um grande movimento comercial, sendo apenas uma de um total de dez missões no contexto do programa CLPS agendadas para o futuro próximo. Como já escrevemos aqui, os próximos anos serão frenéticos no contexto da Nova Corrida Espacial e o retorno à Lua, com várias missões lunares de várias nações e empresas privadas programadas ainda para este ano, que deve ver também a terceira tentativa de alçar o gigantesco foguete Starship, da SpaceX, ao espaço. A partir de fevereiro próximo abre-se a janela de lançamento da missão lunar IM-1 Nova-C da empresa privada Intuitive Machines, a qual, juntamente com a Peregrine, faz parte do que está sendo considerada uma corrida espacial privada de quem pousará a primeira missão privada na Lua. E mais: no dia 19 de janeiro está prevista a tentativa de pouso suave na Lua da missão japonesa SNIPER, que tentará (como sugere o nome) um grande salto de qualidade na tecnologia de pouso de precisão. A SNIPER busca, ao contrário dos parâmetros normais de tentar o pouso em uma área de diversos quilômetros de extensão, lograr uma precisão de 100 metros no local de alunissagem.
Em breve a Lua não servirá apenas de inspiração para românticos, poetas e escritores de ficção, ela será a base de uma nova aventura para a raça humana: a colonização do espaço.
Assista ao vídeo do lançamento do Vulcan Centaur com a Missão Peregrine:
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