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Equador - Miguel Sousa Tavares

Atualizado: 30 de mar. de 2023

Um romance intenso e um retrato primoroso dos últimos anos da monarquia portuguesa

Equador, best-seller da literatura portuguesa contemporânea, é uma ficção histórica que se passa no início do século passado em Portugal, nos últimos anos da monarquia. Seu protagonista, o empresário e bon-vivant Luís Bernardo Valença, é convidado pelo rei de Portugal, Carlos I, para assumir o governo das ilhas de São Tomé e Príncipe, duas pequenas possessões portuguesas na costa africana. Numa época em que Portugal vivia momentos conturbados em sua política interna e externa, onde a instituição monárquica era atacada sistematicamente pelos republicanos e a Inglaterra acusava o país de ainda manter a escravidão em suas colônias, Luís Bernardo recebe uma missão desafiadora: convencer o governo inglês de que não havia trabalho escravo na colônia que aceitou governar.


Dono de uma pequena companhia de navegação herdada de seu pai, ele era um homem a par dos acontecimentos do seu tempo, acompanhando com paixão as notícias que vinham de fora do país e publicando artigos em jornais de Lisboa com suas ideias. Monarquista, mas não totalmente refratário a algumas ideias republicanas, defendia um colonialismo moderno, de matriz mercantil, centrado numa exploração efetiva das coisas que Portugal tivesse capacidade de levar a cabo através de empresas vocacionadas para tal, ou seja, uma gestão profissional, com atitude civilizacional, que substituísse o modelo atrasado de exploração das colônias. Sedutor inveterado e solteiro convicto, prezava por sua liberdade e independência, mas, apesar disso, demonstrava certa melancolia com sua incapacidade de se entregar a uma paixão e constituir uma família.


São Tomé e Príncipe, apesar de formarem a menor colônia portuguesa naquele período, era uma grande produtora e exportadora de cacau. Situadas na linha do Equador, onde São Tomé é a maior das duas ilhas, eram habitadas basicamente por portugueses (comerciantes, funcionários públicos e administradores das roças de cacau) e angolanos. Estes últimos, trazidos aos milhares de Angola para as ilhas, viviam num regime análogo ao da escravidão. E era justamente por este motivo que, alegando descumprimento de um tratado assinado com Portugal e também com a concorrência desleal com o cacau produzido nas colônias inglesas na África Ocidental, a Inglaterra ameaçava boicotar a importação do cacau produzido nas ilhas.


É neste cenário que Luís Bernardo chega à São Tomé para assumir o governo e cumprir sua missão, mas ele se depara com uma realidade muito mais complexa e conflituosa do que poderia imaginar. A solidão da vida nas ilhas acentua sua melancolia, seu idealismo entre em choque com a herança do colonialismo predatório e a política o envolve numa armadilha maior do que ele seria capaz de lidar.


Retrato do fim de uma época e de profundas transformações que mudariam o mundo naquele início de século, Equador é um livro intenso, tanto do ponto de vista sensorial quanto emocional. Para quem gosta deste gênero de ficção, é um prato cheio para compreendermos Portugal e sua história, além de nos levar a perceber a inviabilidade da exploração colonial nos moldes em que era realizada, e também no choque do idealismo das metrópoles europeias com a realidade.



Nesta edição de 2011, a Companhia das Letras optou por manter a grafia original, no português de Portugal, mas que em nada dificulta sua leitura.



Notas sobre o autor: Miguel Sousa Tavares nasceu no Porto, em 1952. É formado em direito, mas trabalha como comentarista da TV1 e colunista do jornal Expresso. É autor de livros de reportagem e crônicas, como "Sahara, a república da areia" e "Sul", e de livros infantis e juvenis, como "O planeta Branco" e "O segredo do rio".






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