
Fabuloso
Nassim Taleb é uma daquelas pessoas que você conhece pelos livros que escreve, tamanha a paixão com que se dedica aos temas que aborda. Depois do brilhante A Lógica do Cisne Negro, esse livro consegue ser ainda melhor e mais profundo para a compreensão do seu modo de pensar e de suas ideias em relação aos problemas das não linearidades e das exposições não lineares. Com uma escrita acessível para a compreensão de quem se considera leigo nos assuntos mais técnicos abordados no livro, e povoada de referências a inúmeros pensadores clássicos e à sua ancestralidade libanesa, Taleb acende uma luz em nossa forma de compreender o mundo moderno. Lançado em 2012, parece profetizar a pandemia do coronavírus e a forma dissonante como cientistas, imprensa e governo lidaram com a crise. Um evento que, apesar de não ser tão inesperado e raro como um cisne negro, surgiu num mundo cada vez mais complexo e despreparado para lidar com a volatilidade e a incerteza aguda. Um mundo que, na verdade, não deseja que nós o compreendamos, um mundo cujo encanto provém justamente de nossa incapacidade de compreendê-lo integralmente.
São lições e mais lições de como não cair nas armadilhas dos formuladores de políticas públicas, economistas de uma forma geral, acadêmicos (com algumas exceções), cientistas arrogantes, médicos iatrogênicos e jornalistas desonestos. Ser antifrágil, segundo ele, é apreciar a aleatoriedade e a incerteza, o que significa, acima de tudo, apreciar os erros ou pelo menos certo tipo de erro. A antifragilidade tem uma capacidade singular de nos capacitar a lidar com o desconhecido, de fazer as coisas sem necessariamente compreendê-las, mas fazê-las bem.
Alguns vão encontrar, como eu, uma espécie de confirmação daquilo que enxergávamos como uma arrogância epistêmica e excesso de racionalidade por parte de boa parte do establishment intelectual, mas que, devido ao excesso de (des)informações recebidas no curso do dia-a-dia, vínhamos ignorando.
Antifrágil é uma obra que resgata nossa humildade em relação ao desconhecido e o respeito pela tradição, tanto religiosa como filosófica. Um livro para lavar a alma dos céticos em relação ao conhecimento especializado (que não leva em consideração a fragilidade), e não ao ceticismo em relação à Deus ou qualquer outra entidade abstrata.
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