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A Sombra de Stalin - Netflix

Atualizado: 22 de fev.



A verdade sobre o Holodomor

O Holodomor (em ucraniano "matar pela fome") foi uma catástrofe sem precedentes que ocorreu na Ucrânia soviética nos anos de 1932 e 1933, onde morreram de fome algo entre 7 e 10 milhões de pessoas. Uma catástrofe que só seria reconhecida oficialmente pelos países do Ocidente no início do século XXI. Abafado na época por intelectuais e jornalistas simpatizantes do comunismo, o Holodomor é um exemplo terrível da capacidade humana de colocar suas causas ideológicas acima do indivíduo.


E é justamente esse o tema do filme A Sombra de Stalin. Com o título original de Mr. Jones, ele trata da passagem do jornalista galês, Gareth Jones, pela União Soviética no início da década de 30. Ex-assessor de Lloyd George, primeiro-ministro inglês, Gareth viaja para Moscou como jornalista independente para tentar descobrir as razões para o súbito crescimento industrial da União Soviética e quem o estava financiando. Famoso por já ter entrevistado Hitler, ele intencionava fazer o mesmo com Stalin.


Ao chegar lá e iniciar suas investigações, ele se depara com o fortíssimo aparato de censura construído pelos soviéticos com a aquiescência de muitos jornalistas e diplomatas ocidentais. Walter Duranty, chefe do escritório do New York Times em Moscou na época e ganhador do Prêmio Pulitzer, era um dos que colaboravam com o regime soviético.


Apesar das dificuldades, Gareth consegue viajar para a Ucrânia e descobrir, com seus próprios olhos, a catástrofe humanitária em que se transformou o outrora celeiro da Europa: fome extrema, morte e desespero. Chocado com o que viu, ele acaba sendo preso e obrigado a retornar à Inglaterra, onde divulga seu relato sobre as atrocidades que presenciou e denuncia as mentiras contadas a respeito do bem-estar soviético.


Gareth, entretanto, é desacreditado por boa parte da imprensa e chega a ser pressionado pelo governo inglês para se retratar publicamente, sob o pretexto de manter boas relações com Stalin. Apesar disso, consegue publicar um artigo detalhando a realidade perversa que encontrou na Ucrânia e culpa a política soviética de coletivização da agricultura pelo desastre.


Contemporâneo de Eric Blair, mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell, com quem trava um diálogo interessante no final do filme, Gareth Jones viria a ser assassinado em 1935, um dia antes de completar 30 anos. Orwell, que publicaria A Revolução dos Bichos em 1945, uma fábula sobre a idiossincrasia dos regimes autoritários baseado na experiência stalinista, era um dos intelectuais que defendiam a experiência socialista na União Soviética até tomar conhecimento da realidade dos fatos.


Em novembro de 2008, Jones e o colega jornalista do Holodomor, Malcom Muggeridge, foram condecorados postumamente com a Ordem do Mérito Ucraniano por seus serviços excepcionais ao país e ao seu povo.


O filme não é apenas um retrato de uma época, ele é um retrato de todas as épocas. Um alerta de como a verdade por ser alterada por narrativas e moldada de acordo com a ideologia vigente, mesmo que os fatos digam o contrário. Uma denúncia de como o jornalismo pode ser usado para sustentar mentiras e de como os intelectuais se tornam instrumentos de propagação ideológica e viram as costas para a realidade de acordo com as causas que abraçam.


Produção de origem polonesa, britânica e ucraniana, o filme foi dirigido por Agnieszka Holland, consagrada diretora e roteirista polonesa.



Assista ao trailer:



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