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A Idade Média - A Verdadeira Idade das Luzes

Atualizado: 18 de abr.


Quando a maior parte das pessoas pensam na Idade Média, vêm-lhes à mente um período cercado de obscurantismo religioso, guerras, doenças e atraso tecnológico. No entanto, além de haver um certo exagero e desconhecimento sobre os acontecimentos deste período, ignoramos por completo as grandes descobertas científicas e tecnológicas da época.


Em A Idade Média: A Verdadeira Idade das Luzes, Seb Falk, historiador e professor da Universidade de Cambridge, ajuda a desmistificar nossos preconceitos contando um pouco a história da ciência e dos desenvolvimentos tecnológicos medievais. Especializado nos instrumentos científicos da Idade Média e em história da astronomia, navegação e matemática, Falk foi nomeado, em 2016, como um dos grandes pensadores de sua geração pela BBC.


Seu livro tem como ponto de partida uma extensa pesquisa a respeito de um manuscrito chamado Equatorie, escrito no século XIV (mais precisamente em 1392) pelo monge e astrônomo inglês John Westwyk. Trata-se de um manual com instruções para fabricação de um instrumento que seria utilizado para aprender conceitos astronômicos e localizar com exatidão as posições planetárias. A partir daí, seguimos as grandes descobertas científicas da Idade Média e aprendemos a multiplicar numerais romanos, a usar as estrelas para navegar, a ver o tempo com um astrolábio e a viajar dentro e fora da Inglaterra.


Contudo, mais do que nos contar e detalhar o desenvolvimento do manuscrito e das descobertas científicas da época, Falk nos chama atenção para os conceitos enviesados que a própria Idade Média tem nos tempos modernos. Longe de ser uma realidade atrasada e obscura (uma Idade das Trevas) ela foi uma época de grande interesse e investigação científicos. As pessoas medievais, como ele chama, procuravam obter conhecimento do porquê das coisas da Natureza se comportarem como se comportam, e usavam este entendimento para fazerem previsões para o futuro. Para estas pessoas, o estudo do mundo era um caminho para a sabedoria moral e espiritual.


Apesar de não ser padronizada, a ciência medieval significava conhecimento ou saber num sentido geral, ou uma forma de pensar. Não tinha a definição restrita que "ciência" tem na língua moderna. A palavra cientista, inclusive, só foi cunhada no século XIX, transmitindo uma imagem precisa do profissional moderno que conhecemos hoje, algo que os filósofos, astrônomos e médicos medievais não eram de modo algum.


E, ao contrário do que muitos pensam, a religião não era impedimento ao progresso científico. As universidades, inclusive, evoluíram depois de séculos de desenvolvimento gradual em escolas monásticas e de catedrais, catalisadas pela enorme quantidade de traduções de obras filosóficas e científicas árabes e gregas no século XII. Muitos cristãos medievais respeitavam e absorviam o saber de outras crenças, sem preconceitos. A fé devota motivou a investigação do mundo natural, e as instituições, desde os mosteiros até a própria monarquia papal, instigavam e apoiavam a ciência.


Então por que insistimos em depreciar a Idade Média? Em parte, sem dúvida, para exaltarmos a nós mesmos, mas em grande parte também por desconhecimento e desinformação sobre o passado. Claro que a ciência moderna tornou nossas vidas mais longas e mais confortáveis de uma forma que as pessoas da época medieval jamais imaginariam, mas ver o passado como uma versão imperfeitamente desenvolvida do presente pode nos levar a ceder à complacência sobre o estado do nosso próprio conhecimento, permitindo-nos ignorar aquilo que ainda não sabemos ou não conseguimos fazer, bem como a fragilidade das estruturas e do estatuto da ciência.


O livro peca, se é que podemos dizer dessa forma, no rigor pormenorizado do autor em demonstrar os cálculos e tabelas utilizados pelos astrônomos medievais para elaboração de seus manuscritos e instrumentos. Deste modo, a leitura pode se tornar um pouco cansativa em alguns trechos. Por outro lado, no entanto, é possível atestar o esforço dos antigos em procurar a exatidão de suas previsões e em compreender a mecânica celeste e os fenômenos naturais.



O livro em português foi publicado pela Bertrand Editora, em Portugal. Clique aqui para consultar a disponibilidade na Amazon.





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