Bem vindo mais uma vez! Vamos falar agora um pouco sobre as diferentes fases da jornada da inovação nas empresas. Para uma maior compreensão, recomendo a leitura prévia das três primeiras partes, começando, aqui.
Estágios da inovação
Nível de Maturidade Tecnológica - NMT
O NMT ou Technology Readiness Levels - TRL é uma metodologia desenvolvida pela NASA (1974) para mensurar e comparar a evolução da maturidade de novas tecnologias aeroespaciais e é muito utilizada por empresas e agentes de fomento à inovação para tomada de decisão e alocação de recursos, conforme vão sendo superados os milestones ou critérios mínimos que tornam a tecnologia apta a próxima fase de desenvolvimento.
Em 2014, a União Europeia lançou um manual com um refinamento das definições dos TRLs para que contemplassem qualquer tipo de inovação e não apenas as ligadas à indústria aeroespacial. No Brasil, foi recentemente normatizada pela NBR ISO 16290:2015.
Ciclo de vida do projeto e riscos tecnológicos inerentes à inovação
É possível associar o nível de maturidade de um projeto ao seu ciclo de vida ou etapas de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e também ao risco inerente a cada uma delas, considerando que, quanto mais recente for a tecnologia, maiores serão as incertezas e, portanto, as chances de fracasso.
A compreensão dessa lógica é crucial porque é justamente onde se concentra o maior risco tecnológico (TRLs 1 a 6) que a indução à inovação deve ser apoiada com recursos não reembolsáveis (a fundo perdido) como forma de mitigar os riscos e facilitar a tomada de decisão de transformar uma ideia ou conceito (pesquisa básica) em algo com potencial mercadológico (pesquisa aplicada) e que, posteriormente, possa chegar ao mercado (inovação).
A tabela abaixo apresenta um comparativo entre risco tecnológico, níveis de maturidade, ciclo de vida do projeto e os principais atores da cadeia de inovação. Importante observar que entre o TRL 3 e 6 as pesquisas enfrentam o enorme desafio de atravessarem o “Vale da Morte”, assim denominado porque o risco associado ao seu desenvolvimento ainda é tão elevado que dificilmente conseguem prosperar sem auxílio financeiro.
Muitos projetos também sucumbem ao vale da morte porque estão tão no estado da arte tecnológica que, simplesmente, não há ainda recursos adjacentes que possam sustentar seu amadurecimento e, assim, permanecem inertes até que outras tecnologias o alcancem e permitam seu avanço.
É o que estamos observando com a convergência de várias plataformas de conhecimento (Big Data Analytics, Computing Clouds, Blockchain, Machine Learning) que permitem, agora, que inovações radicais e disruptivas como Inteligência Artificial estejam acelerando rapidamente por todos os níveis de maturidade tecnológica e algumas já estejam praticamente prontas para o mercado. O que nos leva a outra ferramenta importante de observação de estágios e tendências de inovação, a Curva Gartner.
Hype Cycle ou Curva Gartner
Hype Cycle é uma curva de padrões que tendem a se repetir do ciclo de vida de uma determinada tecnologia ou inovação e foi desenvolvida pela Gartner em 2018. Desde então, a consultoria divulga todos os anos mais de 100 Hype Cycles em vários setores e segmentos de mercado para permitirem acompanhar a maturidade da inovação e o potencial futuro das tecnologias e como estas evoluem, ou não, na curva ao longo do período observado.
A Curva pretende mostrar a evolução que um gatilho tecnológico, por exemplo, uma grande descoberta ainda nas fases de P&D, pode dar início a uma onda hiperbólica (daí, Hype) que cria grandes expectativas mas que, normalmente, não correspondem à realidade e sucumbem, com algumas poucas tecnologias chegando ao estágio de maturidade suficiente para gerar engajamento e sustentabilidade produtiva.
Sua principal utilidade é ajudar a mapear e acompanhar a evolução e a velocidade de desenvolvimento tecnológico de um determinado segmento de mercado chegar ao platô de produtividade e prover subsídios à tomada de decisão estratégica para a sua adoção ou não.
Contudo, aprender a interpretar a curva é essencial para o “timing” de captura de valor da tendência dentro do ambiente empresarial. Não parece fácil, e não é mesmo, tomar essa decisão, mesmo com a ajuda da curva. A Gartner recomenda que:
Não se deve apostar em um gatilho tecnológico (Technology Trigger) de uma inovação apenas porque está crescendo de forma vertiginosa ou hype;
Tampouco, deve-se ignorar uma tendência só porque não atingiu as expectativas exageradas (Peak of Inflated Expectations) e começou a descer ou está no meio da curva da desilusão (Trough of Disillusionment). Mantenha-a no seu radar;
Conforme as tecnologias superam a desilusão e começam a subir a curva do esclarecimento (Slope of Enlightenment), observe os primeiros adotantes aprendendo as lições difíceis das novas tecnologias de menor impacto no seu negócio e decida por adotá-las ou não quando já estiverem bem maduras (Plateau of Productivity);
No entanto, seja agressivo de forma estratégica e incorpore antecipadamente tecnologias com potencial de alavancagem e/ou disrupção do seu negócio.
E, muito conectada à lógica da Hype Cycle, temos a Curva de Adoção da qual vamos falar no próximo artigo. Até semana que vem.
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